terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Natal


Não sei se contei por aqui, mas não tenho mais religião. Não vejo mais sentido nisso. Sendo assim, o Natal foi perdendo o sentido, gradativamente, pra mim... até chegar ao ponto atual.

Ok, a sociedade clama por um dia em família. Até aceitaria, com ressalvas. Família pra mim é marido/esposa, pai, mãe e irmãos. Sou filho único e meus pais não aceitam meu namorado. Impasse eterno. 

Mesmo assim, resolvi ceder um pouco. Gastei uma boa quantia com a ceia, na esperança de ter um dia tranquilo. Ainda que eu não gostasse da data, a comida é saborosa.

Acontece que minha mãe, com seu cristianismo escroto, gosta de usar o Natal pra aparecer. Gosta de chamar parentes que não vê o ano inteiro e de dar banquete, em plena crise.

Quando fiquei sabendo que as portas estavam abertas, a qualquer parente que quisesse entrar lá em casa, me senti extremamente incomodado. Tudo isso, porque a mãe da minha mãe, a velha má, estava lá. E ela tem mais de 487 filhos, consequentemente 863 netos e por aí vai. Minha mãe deu o tiro no pé de levar a colméia pra lá.

Eu detesto aquela velha há anos e não lhe dirijo a palavra. Mas ela insiste em passar dias lá em casa, por puro comodismo. Me dar conta de que ela tem mais direitos que eu, como receber quem quiser em uma casa que não é dela, me tira do sério.

Resolvi sair, em plena véspera de Natal. Iria assistir Jogos Vorazes e ficar pela rua mesmo. Não consigo ser falso e demonstrar estar tudo bem perto de alguém que eu detesto. O calor ajuda a tornar tudo mais insuportável. Pra quem já tem sangue quente, fica tudo a ferro e fogo.

Quando já estava no ônibus, com a mochila pronta, recebo uma mensagem do meu boy, dizendo que o pai viajou. Me chamou pra ir pra lá, enfatizando que me considera o único parente dele. Completou me chamando de herói.

Aí eu fui, né ? Namorar, transar, ar condicionado, privacidade e não ter que aturar aquela corja? Isso sim seria um milagre de natal.

Acabou que conseguimos assar um frango, experimentalmente, e ficou muito suculento. Completei com uma farofa de ovo caprichada e batata palha. Compramos um chocotonne e cobrimos com sorvete de flocos. 

Foi mais um deja vu de como seria nossa vida, morando juntos.