terça-feira, 12 de abril de 2016

Última faixa


Muitos sabem que sou fã de carteirinha do nosso amigo blogueiro Zé Antônio, do Amar é sentido. O último texto me fez voltar no tempo e abrir a sempre presente Caixa de Pandora dos meus sentimentos.

Um último encontro pode ser triste e feliz, ao mesmo tempo. Pode trazer alívio ou mesmo esperança para dias melhores. Pode fechar com chave de ouro uma grande história, mesmo que de forma simples.

Aconteceu comigo, há quase três anos atrás. Meu primeiro relacionamento homoafetivo havia chegado ao fim. Por mais que tenhamos tentado, acabamos aceitando o fim.

A questão era mais complexa. Além de namorados, éramos os melhores amigos, um do outro. Eu confiava tanto nele, a ponto de ter tirado as forças necessárias para sair do armário e sair daquela vida de fingimentos. Ali foi o início para o despertar do verdadeiro eu.

Nos separamos em fevereiro e ficamos um bom tempo sem se ver ou se falar. A saudade batia, mas não haviam outras alternativas. Ás vezes, achávamos que o tempo poderia curar as feridas ou fazer surgir alguma nova idéia ou solução para os problemas. Sem sucesso.

Não lembro qual dos dois acabou cedendo e entrou em contato. Lembro que ele sentia falta das nossas conversas e eu sentia falta da companhia e do ótimo sexo. Acabamos entrando num consenso e fazendo o que ambos gostavam. Sem pensar no amanhã.

Na hora, nem chegamos a pensar, de tão agradável que estava. Mas depois, bateu a estranheza e o medo do amanhã. Como manter amizade com um ex ? Será que ele ficou com alguém nesse meio tempo ? Porque me procurou ? Porque não pede pra voltar, já que sente minha falta ? Inúmeras dúvidas, de torrar o cérebro.

Antes do último encontro, eu já tinha ficado com um outro garoto, mas não chegou a virar namoro. Seis meses se passaram. Tudo meio que estacionado. 

O dia chegou. Nem parecia o último, mas acabaria sendo. Um dia de inverno, no Jardim Botânico. Queria tirar as últimas dúvidas, se havia alguma mágoa, algo que tenha deixado faltar. Nada. Ele parecia uma casca vazia. Eu não sabia como lidar. Tiramos algumas fotos. Eu consegui perder bastante peso, após a separação, pois consegui focar em outros assuntos. Eu parecia estar bem, aparentemente. Ele, parecia estar derrotado.

Bom, eu não estava bem. Talvez, apenas com a consciência tranquila, por ter me esforçado ao máximo. Mas na época, ficou aquela dúvida de como poderia ter sido. Era agosto, e o aniversário dele tinha passado. Lembro de ter escolhido um pingente de um cristal de Cornalina, para tentar dar mais vida a ele. Onde foi parar aquele brilho da nossa juventude ?  

" Até bem pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem ? " 

Partimos dali para um motel. E ali, sim... eu senti que seria a última vez. Pelo jeito que ele me olhava. Era triste, mas ainda assim foi algo bonito. Não brigamos mais. Aliás, não havia pelo que brigar. Passamos quase cinco anos discutindo sobre prioridades na vida de cada um. Nossos interesses iam em caminhos contrários.

Depois disso, fomos em uma lanchonete. Pedimos dois pedaços de torta alemã. Olhei pra ele, com seus vinte e oito anos. Quando começamos, ambos tínhamos vinte e três. A irmã, que era recém nascida, já sabia ler e escrever. 

Permanecer fixo em um relacionamento neste período de descobertas foi um dos principais testes que passei até hoje. Procurar entender o outro fortalece o caráter. Diferente de se anular. Ninguém nasceu pra isso. Muito menos eu. Quando percebemos que a felicidade de um anulava a do outro, nos despedimos, como fizemos após a última colher da torta alemã.

Foi um adeus.

No dia seguinte, ele me manda um email dizendo que eu tinha melhorado muito depois da separação. Que estava menos insuportável.