domingo, 4 de dezembro de 2016

Começar de novo


" Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido " 

( Começar de novo - Ivan Lins )

Não é fácil desistir de um relacionamento de quase três anos. Há muitas coisas envolvidas, mas precisei colocar tudo na balança. Minha saúde, minha felicidade, minha auto estima, minha confiança, meu respeito, minhas lembranças... enfim...

Eu era daqueles que não desistia. Não largava o osso. Me achava suficientemente bom para corrigir qualquer um. Corrigir ? Não sei se seria a palavra certa, mas consegui por muitas vezes convencer o outro a se adaptar aos meus quereres. Mesmo conseguindo, o preço é altíssimo. A questão é : Mesmo que a pessoa mude... e o que passou ? Fica pra trás ? Pensei nisso por alguns meses. Na realidade, nem as mudanças de comportamento ocorreram, nem tampouco esqueci as lambanças dele num passado recente. Ficou um ranço guardado. Parecia um câncer emocional.

Tentei perdoar quando soube que fui traído carnalmente algumas vezes. Preferi visualizar como uma etapa da vida a ser superada. Que eu poderia tentar compreender. Alguma espécie de karma, sei lá. Tentei ser superior a isso. Mas a sensação era de ter um corpo apodrecendo debaixo da cama. E o pior : só eu sentia o cheiro.

Sinceramente, me dei conta do óbvio : Não sou tao evoluído assim, a ponto de perdoar totalmente tal comportamento. Infelizmente, uma ação gerou uma reação : comecei a revidar, de todas as formas. Era como se eu tivesse crédito, por ter passado por aquele pesadelo. Um crédito que eu nunca quis ter.

Ainda querendo dar uma de forte, o levei pra morar comigo. Mesmo sabendo que a traição nunca sairia da minha mente. Ele começou a se sentir muito culpado e sugeriu abrir a relação pra mim, para que eu pudesse " dar o troco " e ficar com quem quisesse. Nunca funcionou. Vingança permitida tem gosto de café com adoçante. Ele queria se livrar do peso e eu queria que este mesmo peso o esmagasse. Um peso chamado culpa.

Somado a isso, a acomodação com os deveres na casa, a falta de ambição quanto a melhorias financeiras, a prepotência de se achar bonito demais, as pequenas manias irritantes, o fato de não saber diferenciar o que era dele e o que era meu, entre outros fatores... desgastaram o pouco que restava da relação. Chegamos a um ponto em que até o sexo estava raro, com média de apenas uma vez por semana. Patético pra quem mora junto.

Tudo se acumulou de uma forma tensa, como uma panela de pressão. Tentei durante meses, fazê-lo sair da casa. Ele se negava sempre. Achava que era apenas uma fase, que ia passar, sem o mínimo de esforço por parte dele. Numa das tentativas de tirá-lo de lá, ele quebrou alguns pertences meus, o que deu até delegacia. Um final desnecessário para alguém que se negava a enxergar o óbvio : aquela relação já tinha morrido.

Passaram-se algumas semanas e finalmente ele concordou em sair. Procurou vaga em repúblicas, onde poderia arcar com os gastos. O tempo se arrastou até que ele conseguisse. Começaram outras brigas envolvendo dinheiro que ele me devia. Arrumou várias desculpas pra não me pagar, que geraram vários surtos de cólera de minha parte.

Até que a prepotência dele teve um castigo divino. Em todas as brigas, ele cravava que eu nunca conseguiria alguém melhor que ele. O que provava que ele não vivia no mesmo mundo que eu. Sei do meu potencial. Alguns dias depois, conheci um garoto super especial, que veio até mim. Ele aceitou, de primeira, meus defeitos, meu corpo fora dos padrões estéticos, minha limitação física e minha falência emocional e financeira momentânea. Era tudo o que eu precisava para me reerguer.

Sim, eu saí de um namoro para outro. Poderia ter tirado férias ? Claro que sim ! Mas às vezes a sorte não bate duas vezes na mesma porta. O surgimento do Davi foi como uma resposta do universo a tudo que plantei. Me esforcei, plantei amor, dedicação e fidelidade. E eis que ele surgiu, como minha primavera particular.

Sobre o remorso que hoje corrói meu ex- namorado, isso já é um problema só dele.

Estou feliz.